A violência contra a mulher, infelizmente é uma realidade. De acordo com o dados da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina o Estado registrou no primeiro semestre deste ano, 37.459 denúncias de violência doméstica, sendo que 22 mulheres foram vítimas de feminicídio. Conforme a SSP/SC, destes 22 casos, somente duas vítimas tinham boletim de ocorrência registrado contra o autor, 27% eram atuais companheiras, 32% ex-companheiras e 41% com outros tipos de vínculos (ascendente, descendente ou outro parentesco).
Conforme a psicóloga do HRHDS Hildegard Krause é difícil identificar agressores e vítimas. "Não existe uma receita para saber quem é um possivel agressor e quem é uma possível vítima. A princípio, as pessoas se unem por amor e atração e não consideram que, eventualmente, essa relação está construída em outras bases como a dependência emocional e a necessidade de controle", explica.
De acordo com a profissional, uma pessoa que se encontra em um relação abusiva e tóxica pode não se dar conta ou não querer aceitar a situação, já que isso significaria o fim do relacionamento. "Não adianta declarar à pessoa de que ela está sofrendo a violência e que ela tem direito de se defender, porque a vítima está tão envolvida dentro do próprio drama que ela não consegue enxergar além. Antes de mais nada, a vitima precisa ser acolhida e entender que ela pode ter apoio e ser respeitada longe desse agressor". É importante estar atento, porém, a casos que envolvam o risco à vida da mulher. "Nestes casos a denúncia precisa ser realizada", aponta.
COMO FUNCIONA O CICLO DA VIOLÊNCIA?
A psicóloga Lenore Walker é norte americana e definiu o ciclo da violência que geralmente ocorre contra as mulheres. São três fases determinantes, a que antecede a violência, com o aumento da tensão, a violência consumada e um período de "calmaria" e estagnação, em que o parceiro se diz arrependido pelo ato e promete que aquilo não irá se repetir, trazendo uma falsa sensação de conforto à vitima.
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FASE 01- O agressor fica tenso e irritado por qualquer motivo e tem acessos de raiva. Ele pode humilhar e culpabilizar a mulher pela sua impaciência. A mulher, por sua vez, fica alerta adotando medidas de não acirramento, tentando controlar-se e justificando as agressões verbais ou psicológicas.
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FASE 02 - A segunda fase é quando ocorre o ato de violência, geralmente sob a alegação de que o homem agiu por falta de controle. Nesta fase, a mulher pode apresentar ansiedade ou ficar paralisada e apresentar outros problemas de saúde. Pode também reagir buscando ajuda para sair da relação.
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FASE 03- A terceira fase é conhecida como a fase da trégua, quando o homem demonstra arrependimento e promete que não fará a violência novamente. A mulher retoma o relacionamento, visto que ele começa a demonstrar carinho e promete buscar ajuda. O remorso demonstrado por ele faz com que ela se sinta responsável por ele, criando um vínculo de dependência entre o casal.
Conforme a psicóloga Hildegard Krause, apesar de não existirem motivos para uma pessoa permanecer em um relacionamento tóxico, há algumas tendências nestes relacionamentos. "Observamos uma dependência emocional ou dependência financeira que limita ou inibe a iniciativa do outro buscar trabalho, porque é cômodo [para o agressor] ter alguém submisso em casa. Outra questão é o medo de denunciar e fazer com que a violência cresça, já que a violência física constantemente é acompanhada de ameaças. Isso faz com que a vítima perca a capacidade de discernir e de entender o que está acontecendo ao redor dela", explica.